O último adeus de Gilberto Gil a Nana Caymmi
O clima era de saudade forte na última despedida de Nana Caymmi, e nada simbolizou tanto esse momento quanto a presença de Gilberto Gil ao lado do caixão da artista. Os dois tiveram uma breve história de amor no final dos anos 1960, marcada não só pelo romance, mas também por uma sintonia artística que continuou mesmo depois do fim do casamento. Essa relação atravessou o tempo e ganhou novos sentidos, revelando o quanto a música pode unir vidas muito além dos palcos.
Dona de uma voz inconfundível e de opiniões marcantes, Nana embarcou no universo musical desde cedo, seguindo passos do pai, Dorival Caymmi. Mas foi ao lado de Gil, e depois dele, que ela solidificou sua própria trajetória. Os dois dividiram não apenas a autoria da canção 'Bom Dia', mas também palcos e bastidores repletos de história. Lá nos anos 90, a parceria se renovou, quando Nana e Gil voltaram a gravar juntos, homenageando Dorival no álbum *Parabolicamará*.
Gil nunca escondeu o impacto do sogro em sua concepção artística. 'Dorival definiu o que é Bahia na música', disse, reconhecendo a influência do mestre. Essa admiração virou ponte entre ele e Nana, que, mesmo com altos e baixos pessoais, nunca cortaram laços de respeito e afeto mútuo. O círculo se mostrou completo no velório, onde Gil fez questão de se despedir pessoalmente, emocionando familiares e amigos presentes.

Família, legado e o papel de Nana na música
Ao longo das décadas, Nana Caymmi fez questão de manter viva a tradição musical dos Caymmi, mas nunca se conformou em ser apenas herdeira do legado. Lançou álbuns autorais, interpretou clássicos e arriscou voos criativos em parceria com nomes como Caetano Veloso, Wagner Tiso e Milton Nascimento. Sua presença nos festivais e programas de TV dos anos 70 e 80 fez dela uma voz obrigatória para entender a transformação da música popular brasileira naquele período.
No velório, não foram só colegas de profissão que marcaram presença. Entre amigos próximos, jovens músicos e fãs, todos ressaltaram o jeito firme de Nana nas opiniões e o calor nos encontros nos bastidores. Era comum ouvir histórias sobre seu rigor musical, mas também sobre momentos descontraídos de ensaios em família na casa dos Caymmi, no Rio de Janeiro.
Perder Nana é também fechar um capítulo especial na história da MPB. Gil, ao dizer suas palavras finais diante do corpo da ex-companheira, deixou evidente a dimensão desse vazio. Mais do que uma parceria musical, a relação entre os dois artistas mostrou como a união, mesmo que breve, pode ecoar em músicas, lembranças e, claro, no jeito como a cultura brasileira se reinventou nas últimas décadas.